Rui Jorge: e o treinador do Futuro (artigo de Manuel Sérgio)
Convivi e com alguns cheguei a fazer amizade, com um número bem razoável de jogadores e de treinadores de futebol, desde 1964, o ano em que o Dr. Vale Guimarães me convidou para sub-diretor (e chefe de redação e redator e repórter, etc., etc.) do jornal «Os Belenenses».
Não esqueço Mário Wilson, como treinador dos ´azuis´ de Belém e professor da Escola de Educação Física de Lisboa; nem José Maria Pedroto, sempre de curiosidade desperta, procurando no David Monge da Silva e em mim a informação que ele pensava escassear-lhe; e o Fernando Vaz, que sendo ´agente do futebol´ e jornalista não considerava a literatura coisa supérflua e dialogava comigo mais sobre temas literários do que sobre a técnica e a tática, no futebol. Nunca encontrei no futebol (não me refiro a jornalistas) um homem de tão sôfrega vontade de respirar o hálito embriagante de um texto de um bom autor, como o Fernando Vaz (ao contrário de José Maria Pedroto que fazia do futebol o seu tema favorito). Aqui muito à puridade posso adiantar que, assim como o engenheiro Ângelo Correia diz, com muita simpatia, que fui eu que o ensinei a ler Fernando Pessoa, o Fernando Vaz, se vivo fosse, não esconderia também que fui eu a primeira pessoa que o aconselhou a deliciar-se com a poesia do Manuel Alegre, recitando-lhe (se bem me lembro) esta quadra que sei de cor: “Que o poema seja microfone e fale / uma noite destas de repente às três e tal / para que a lua estoire e o sono estale / e a gente acorde finalmente em Portugal”. Receio que, pelos meus breves e pobres comentários, não possa transluzir sequer o valor profissional e ético de Fernando Vaz, de Mário Wilson e de José Maria Pedroto, como “homens do futebol”. Os três seriam, hoje, também, treinadores exemplares. Em capacidade, engenho e saber, iguais aos melhores que o mundo atual publicita...