FM2015

FM2015
Compre o Football Manager 2015 agora na pré-venda, e tenha acesso a uma versão beta totalmente jogável cerca de duas semanas antes da data oficial de lançamento. Mais informações clique na imagem.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Duarte Sá, o «eterno capitão»: «É o maior momento do Rio Ave»

Entrevista com o líder da equipa que chegou à final de 1984, em vésperas de mais um jogo na Suécia


O Rio Ave está, pela primeira vez, nas provas europeias, fruto da presença na final da Taça de Portugal 13/14, e pode até chegar à fase de grupos da Liga Europa, caso passe o «play-off» com o Elfsborg, depois de ter eliminado o Gotemburgo. 

Apesar da derrota com o Benfica, o caminho ficou aberto pelo facto do conjunto da Luz ter tido acesso à Champions. Algo que não aconteceu há 30 anos quando, em 1984, o Rio Ave chegava à primeira final da sua história, frente ao FC Porto. 

O capitão dessa equipa de há três décadas era Duarte Sá. Entre 1973 e 1986, o lateral-esquerdo e central só conheceu um clube na carreira: o Rio Ave. «Eterno capitão», somou entre 79 e 88, 155 jogos e marcou dez golos.

Em grande entrevista ao Maisfutebol, Duarte Sá não tem dúvidas: este é o maior momento da história do Rio Ave, que completa 75 anos de existência como clube.

Na antevisão do jogo de quinta em Boras, frente ao Elfsborg, Duarte Sá (natural de Vila do Conde, hoje com 61 anos, sempre ligado à terra natal, onde desempenha as funções de secretário-geral de armadores de pesca), compara esta equipa de 2014 com a de há três décadas, lembra dificuldades de base que o Rio Ave tinha e que foi superando e recorda a influência de Mourinho Félix, pai de José Mourinho e técnico da equipa que chegou à final de 84.

Este é o maior momento da história do Rio Ave?
Claro que sim. A época passada foi marcante e abriu caminho, com a chegada a três finais, a esta situação absolutamente histórica, que é vermos o Rio Ave a um passo de chegar à fase de grupos da Liga Europa.

O Rio Ave acabou por perder as três finais, mas esteve perto de ganhar pelo menos uma…
Diria que esteve perto de ganhar duas! Além da Supertaça, em que fomos aos penalties, com alguma sorte à mistura, é certo, também a final no Jamor é um bocado mal perdida.

O Rio Ave merecia vencer a final da Taça de Portugal?
Creio que foi muito mais equipa que o Benfica, sobretudo na segunda parte. O Benfica estava fisicamente de rastos nessa fase, o Rio Ave jogou muito mais. Mas não soube aproveitar isso.

Foi a melhor época de sempre do Rio Ave?
Tendo em conta que chegou a três finais e, por consequência, a uma prova europeia, sim. Há 30 anos, a presença no Jamor não valeu presença na Europa, porque o FC Porto não foi campeão nacional. Nesse sentido, este é o ponto mais alto do clube. Mas houve outras épocas muito boas. O Rio Ave chegou a estar muito perto de uma qualificação europeia, falhou mesmo por muito pouco. Desta vez, conseguiu.

Ainda sobre as três finais: a melhor foi a do Jamor e a pior esta da Supertaça?
Sim, foi mesmo isso. Como disse, no Jamor, perdemos enorme oportunidade de bater o Benfica. Ainda tenho essa final atravessada. Foi um Benfica à deriva na parte final desse jogo… Sobrou Oblak. Na Supertaça, o rendimento da equipa esteve abaixo das outras duas finais. Por sorte, não fomos goleados, ninguém esperava uma entrada tão forte do Benfica, até por aquilo que se dizia sobre o atual estado do Benfica. Depois, no prolongamento, até podíamos ter resolvido a nosso favor, e depois acabaram por ser os penalties a decidir. Mas se tivéssemos ganho nos penalties, admito que não seria justo. Quanto à final da Taça da Liga, em Leiria, o Benfica entrou muito bem naquela primeira meia-hora, mas depois o Rio Ave deu boa resposta. 

Que diferenças vê do Rio Ave de Nuno Espírito Santo para o Rio Ave de Pedro Martins?
Ainda é um pouco cedo, em relação ao Pedro Martins, mas este início de época está a mostrar que há condições para manter as melhores virtudes da época passada. O Pedro Martins herdou uma equipa. Houve algumas saídas, é possível que ainda possa haver mais uma ou duas. Mas a estrutura da equipa manteve-se e isso facilita o trabalho que está a ser feito. Há jogadores que acabaram de chegar e que ainda não sabemos se vão ser mais-valias para a equipa.

Mas acredita que o Rio Ave pode, esta época, repetir o que fez na temporada passada?
As perspetivas são animadoras. Ninguém exige que se chegue a uma final, como na época passada. O Rio Ave foi feliz nos sorteios, na temporada passada, não apanhou equipas grandes nas eliminatórias e isso tornou mais fácil o acesso. Mas há todas as razões para continuar a acreditar na equipa.

Se se confirmarem as perdas de Marcelo e Filipe Augusto, serão baixas significativas para Pedro Martins?
São dois jogadores importantes, mas é preciso ver que o Filipe Augusto esteve lesionado em grande parte da época passada. Foi importante na melhoria do rendimento na segunda fase da época, embora isso nem se tenha notado assim tanto nos pontos do campeonato, porque a partir de certa altura o Nuno apostou mais nas taças e não tanto no campeonato. Agora, o Filipe é um jogador de grande qualidade, boa qualidade de passe, um jogador que dava uma qualidade ao jogo da equipa que fará falta, sobretudo na ligação do meio-campo com o ataque. Diria que houve um Rio Ave «antes» e um Rio Ave «depois» da entrada do Filipe Augusto no onze. Quanto ao Marcelo, acredito que se encontrará uma alternativa no eixo da defesa.

O primeiro grande desafio de Pedro Martins é substituir Filipe Augusto?
O grande desafio do Pedro Martins é encontrar equilíbrios na equipa. Ele até pode colocar um jogador com características totalmente diferentes, mas que dê equilíbrio à equipa. 

Era o capitão do Rio Ave na final do Jamor. Que recordações tem desse momento?
Foi o culminar de um feito histórico. Na verdade, esse jogo nem teve grande história, porque o FC Porto cedo se adiantou no marcador. Foi num 1.º de maio, creio que numa terça-feira, e tínhamos jogado no fim de semana para o campeonato. O FC Porto pôde pôr uma equipa de reservas na partida do campeonato e poupar os titulares. Nós, com menos opções, tivemos que jogar quase com o mesmo onze. Isso fez muita diferença. Mas o nosso grande momento tinha sido antes, na meia-final com o Vitória. Foi aí que nos trascendemos e foi aí que assegurámos um lugar na história, ao chegar ao Jamor. Para a meia-final, aí sim, preparámo-nos bem, fizemos um estágio de dez dias. Depois de assegurado o Jamor, houve uma certa descompressão. E como o FC Porto não tinha ganho o campeonato, deram tudo nessa final. Não tivemos hipótese.

Foi o momento mais alto da sua carreira como jogador?
A minha história como jogador foi condicionada à do Rio Ave, porque foi o único clube que representei.

Mourinho-pai a treinador, Mourinho-filho a despontar

Era o capitão dessa equipa de 1984. O treinador era Mourinho Félix, pai de José Mourinho. Como era ele como treinador?
Até é difícil para mim falar dele, porque foi meu treinador vários anos. Conseguia ter os jogadores do lado dele. Era muito próximo.

Dá para comparar com o filho?
São personalidades muito diferentes. Têm formas de estar e de liderar muito diferentes. Não conheço exatamente o modo como o José Mourinho dirige as equipas, porque nunca estive num balneário de uma equipa dele. Mas conheço bem a forma do pai ser treinador e acredito que são um pouco diferentes.

José Mourinho, pelo início dos anos 80, andava pelo Rio Ave também…
Sim, o Zé, por 81, 82, chegou a fazer observações para o pai, estava cá em Vila do Conde, estudava no liceu, à espera de entrar na faculdade. Foi jogador nos juniores, veio por ali acima, chegou a atuar na equipa principal do Rio Ave, creio que só um jogo para a Taça. Mas jogava pelas reservas a meio da semana. E, ao contrário do que por vezes as pessoas dizem, ele não era um mau jogador. Era até um jogador com qualidade, um dez, com boa técnica. Mas fisicamente era frágil, pouco agressivo, evitava ir ao choque… Na altura, o Rio Ave jogava num pelado e para um jogador com essas características é complicado.

Mas já na altura se notavam algumas características especiais nele?
Sim, já em campo ele era um organizador, um pensador. E desde muito cedo se notou nele um interesse pelo treino, pelo estudo do jogo. Isso era muito claro, muito evidente nele, desde muito jovem. Já na altura dava umas dicas ao pai! Daí a opção dele pelo ISEF, pela Educação Física. Ele tinha o exemplo do pai e sentia que podia ser um grande treinador.

Dos distritais à final da taça, em poucos anos

O Rio Ave passa, em meados da década de 70, dos distritais ao primeiro escalão…
Sim, em 1977 festejámos o título de campeão nacional da III Divisão, sete anos depois estávamos na final do Jamor. Foi uma caminhada de crescimento. Em dois anos, subimos da III à I Divisão. Foi marcante. Era uma equipa muito solidária. Para a dimensão do Rio Ave como clube, foi um feito assinalável.   

 Imaginava, nessa altura, que o Rio Ave chegaria à Europa?
Obviamente que não, era uma realidade que nos escapava. Quando fomos campeões da III, nem sequer pensávamos em chegar à I, para ser franco. Quanto mais à Europa! O passo mais importante foi mesmo chegarmos à I Divisão. É certo que chegámos a descer, mas regressávamos sempre e depois de ficar na I Divisão, ir à Europa acabou por ser um passo mais pequenino. Podia até já ter sido há 30 anos, caso o FC Porto tivesse sido campeão em 1984.

Que jogadores destaca dessa equipa de 1984?
Curiosamente, essa equipa de 1984 não é a mais forte do Rio Ave. A de 1981/82 era mais forte, tinha melhores jogadores. Mas como o Rio Ave é um clube modesto, não conseguia manter os melhores elementos. Hoje o Rio Ave tem outras comodidades, outras condições. É diferente. Cresceu do ponto de vista organizativo, de infra-estruturas. E a parte desportiva veio por arrasto. O que aconteceu na época passada já não me surpreendeu.

Em 1984, o Rio Ave não tinha dimensão para chegar a uma final? Era muito mais pequeno. Cresceu demasiado depressa. Como disse, em 1977 fomos campeões da III! Em poucos anos chegámos muito alto. Perdemos o Quim, para o FC Porto. Perdemos o Casaca, para o Boavista…

Dibo criativo, João Tomás muito eficaz

Qual foi, para si, o melhor jogador que passou pelo Rio Ave desde a sua altura, desde os anos 70/80?
Não consigo responder a essa pergunta. Não consigo, mesmo, até porque uma escolha dessas seria sempre também uma escolha «contra» outros… E isso eu não consigo fazer, quando falo do Rio Ave.

Ok, pergunto-lhe então sobre dois jogadores que foram marcantes em fases diferentes: Dibo e João Tomás…
São dois casos curiosos. Dibo tinha um talento incrível, fazia coisas do arco da velha com a bola. Era um artista. Mas do ponto de vista do rendimento desportivo, deixava muito a desejar. A nível de criatividade, imaginação, qualidade técnica, talvez o melhor que vi no Rio Ave. No resto, de forma alguma. Quanto ao João Tomás, não era brilhante tecnicamente, mas com uma incrível capacidade de fazer golos… do nada. Quase que os inventava. O João era muito eficaz.

Para acabar, o que torna o Rio Ave especial?
Essa proximidade com o mar, a ligação aos pescadores, o facto de ser uma zona piscatória, dá um caráter muito marcante a este clube. Os adeptos do Rio Ave vivem o futebol com grande fervor, com grande paixão.     

     

  

Sem comentários:

Enviar um comentário