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sábado, 9 de agosto de 2014

Ilídio Vale: «O jovem jogador português pode atingir altíssimo nível»

Coordenador técnico das seleções de formação em grande entrevista ao Maisfutebol 


Portugal foi finalista no europeu de sub-19 em 2014, semi-finalista no europeu de sub-19 em 2013 e finalista do mundial de sub-20 em 2011. A qualidade é objetiva… será que vamos conseguir aproveitá-la ao máximo nos próximos anos?

Ilídio Vale, coordenador técnico das seleções de formação de Portugal, cargo que desempenha desde agosto de 2010, dá pistas, partilha ideias, revela factos sobre como se tem trabalho a formação na FPF, nos últimos quatro anos.

Em longa entrevista ao Maisfutebol, com o recente sucesso do europeu de sub-19, realizado na Hungria, e a liderança portuguesa no Troféu Maurice Burlaz (que contabiliza os resultados acumulados das seleções jovens na Europa) como pretextos, Ilídio Vale responde a tudo. Mostra-se otimista, mas também, por vezes, reticente.

Tenta contextualizar algumas aparentes contradições que o futebol português tem revelado neste capítulo, mas inclui os clubes no ciclo virtuoso do processo de «progressão» dos jovens jogadores.

E, sobretudo, mostra-se orgulhoso pelo talento e empenho que muitos jogadores jovens portugueses têm mostrado nos últimos anos.

Numa altura em que tanta gente em Portugal (sobretudo depois do Mundial-2014) tem tocado na questão «da formação», esta é uma entrevista de leitura obrigatória.

A presença na final do Euro de sub-19 é fruto de um trabalho contínuo ou foi um episódio que pode não ser repetido? 


De uma forma convicta, digo-lhe que é fruto de um trabalho contínuo, sistémico, estratégico, tendo como referência a excelência, tendo como objetivo criar condições para que as nossas equipas e jogadores possam ser competitivos, vencedores e ter sucesso ao mais alto nível.

O que mudou nos últimos quatro/cinco anos para que as seleções jovens de Portugal tenham voltado a ter bons desempenhos nas competições internacionais? Que hábitos foram introduzidos e que permitiram a melhoria nos resultados?
Mudança de paradigma. Uma visão sistémica, considerando um conjunto de pressupostos, fazendo (re)nascer uma identidade para as seleções de Portugal. Tendo como referências fundamentais uma identidade de jogo, uma identidade metodológica, uma identidade de jogador, uma identidade de treinador, uma identidade organizativa…

A relação FPF/clubes é a chave em todo este trabalho? Isso tem vindo a mudar nos últimos anos?
É fundamental que FPF, clubes, associações, outras instituições, sejam parceiros empreendedores na busca de melhores jogadores, melhores equipas, de um melhor futebol português. De um futebol vencedor.

O jovem jogador português tem características naturais que o tornam especialmente bom no plano europeu e mundial? Consegue identificar os pontos fortes e eventualmente os menos fortes do jovem jogador português?
O jogador português, se enquadrado em contextos de desenvolvimento de qualidade, naturalmente terá condições para desempenhos de altíssimo nível. Embora haja uma evolução significativa, continua a ser necessário melhorar os meios fundamentais para a formação de um jogador português consistente na excelência, considerando as diferentes dimensões do rendimento. 

Os clubes formadores portugueses têm as condições de trabalho adequadas? E as seleções jovens?
Hoje, os clubes portugueses, globalmente, têm melhores condições que no passado, contudo, muito aquém do desejável. É fundamental para a evolução do futebol de formação em Portugal criar muito mais espaços que sejam funcionais para treino e jogo do futebol. Os espaços continuam a ser muito poucos. Em muitos clubes chegam a treinar duas e três equipas ao mesmo tempo num campo de futebol. Exceção para uma amostra ainda pequena de clubes portugueses, os quais já possuem excelentes condições de trabalho. Seria importante termos um espaço próprio para as seleções nacionais, contudo gostaria de dizer que a Direção da Federação Portuguesa de Futebol tem feito tudo para nos oferecer as melhores condições de trabalho, o que merece o nosso reconhecimento.  

Se a qualidade do jovem jogador português parece indiscutível, e tem sido traduzida em bons resultados nos últimos anos nas competições internacionais do futebol de formação, o que está a falhar na transição júnior/sénior? E por que é que não vemos mais portugueses nas equipas principais dos três grandes? 

Em grande entrevista ao Maisfutebol, Ilídio Vale prefere utilizar o termo «progressão» em vez de transição. E explica porquê.

Pergunta óbvia de resposta difícil: por que é que Benfica, FC Porto e Sporting não têm mais portugueses nos seus onzes das equipas seniores, atendendo ao êxito das camadas jovens de Portugal? Um dos aspetos elogiados na Alemanha, campeã sub-19, é precisamente o facto de ter alguns jogadores que já atuam na Bundesliga... Por que não acontece isso também no nosso caso? 

Respeito a política e a estratégia desportiva dos diferentes clubes portugueses, mas gostaria de ver reconhecido, em alguns desses clubes, o trabalho de excelência realizado na formação dos seus jovens jogadores e equipas, formando alguns jogadores de excelência. Para estes, reclamava um alargar de oportunidades de excelência. 

O que está a falhar na transição camadas jovens/futebol profissional?
Gostaria de falar em «progressão» em vez de transição do jogador do futebol de formação para o futebol sénior. A transição pode implicar constrangimento. Queremos um ‘continuum’, sem grande ‘ruído’, embora, recentemente, algumas indicações positivas tenham sido dadas. Por exemplo: as equipas «B», mais jogadores jovens treinaram e jogaram nas primeiras equipas dos seus clubes; intencionalidade em reestruturar as competições nacionais dos diferentes escalões. Espero que contemples uma harmonia competitiva evolutiva e coerente, valorizando desse modo uma “ferramenta” determinante na evolução do jogo e do jogador português. Isto é, do futebol. O futebol de alto nível requisita um jogador “pronto” para a excelência. Será que esta condição se verifica? Será que o “olhar” para o jovem português é o mesmo que para um jovem estrangeiro? Será que as oportunidades (escassas) terão em consideração o grau de prontidão do jovem jogador? A problemática é extensa. Contudo, antes de qualquer outra coisa, penso ser requisito determinante uma nova mentalidade, um novo olhar. Um olhar sistémico a todos os intervenientes no processo (treinadores, jogadores, dirigentes…) sobre este assunto. 

Como vê o fenómeno das contratações pelos três grandes de jogadores estrangeiros em idades muito precoces, para as camadas jovens?

É uma perspetiva que aceito naturalmente, desde que se tratem de jovens de qualidade superior, podendo desse modo contribuir para o desenvolvimento dos nossos melhores jogadores. Os nossos jogadores de qualidade necessitam de contextos de treino e jogo de excelência e oportunidades de qualidade superior, não devem necessitar de proteção. 

O que é feito dos jogadores que foram vice-campeões do Mundo de sub-20 em 2011, na Colômbia? Três anos depois, não era suposto que já aparecessem em maior destaque no plano competitivo do futebol português? 

Ilídio Vale, em grande entrevista ao Maisfutebol, contextualiza. E elogia a «qualidade competitiva de excelências» de «alguns» desses jogadores, desejando que mantenham a persistência, a humildade e os desempenhos de qualidade. Para terem mais oportunidades de «convencer os céticos». 


Portugal foi vice-campeão do Mundo de sub-20 em 2011. Passados três anos, não haverá já sinais preocupantes da falta de aproveitamento competitivo dos jogadores que participaram naquela excelente campanha na Colômbia?

Alguns jogadores dessa geração revelaram qualidade competitiva de excelência, num contexto de excelência. Conheci e trabalhei com um conjunto de jovens com forte personalidade futebolística, uma enorme ambição, com “fome” de sucesso… Com mentalidade de campeões. Espero que não tenham perdido essa matriz que os caracterizou e continuem persistentes, humildes, que consigam desempenhos de qualidade, consistentes, e acreditem que serão capazes de convencer os mais exigentes, os mais céticos, a conceder-lhes oportunidades de excelência.

Que significado atribui ao facto de Portugal estar a liderar o Troféu Maurice Burlaz, que será atribuído em 2015?

Reconhecimento da identidade de Portugal. Do caminho técnico, que escolhemos para as nossas seleções, para os nossos jogadores, para os nossos treinadores… O caminho difícil e duro da excelência.

Os clubes formadores portugueses têm as condições de trabalho adequadas? E as seleções jovens?

Hoje, os clubes portugueses, globalmente, têm melhores condições que no passado, contudo, muito aquém do desejável. É fundamental para a evolução do futebol de formação em Portugal criar muito mais espaços que sejam funcionais para treino e jogo do futebol. Os espaços continuam a ser muito poucos. Em muitos clubes chegam a treinar duas e três equipas ao mesmo tempo num campo de futebol. Exceção para uma amostra ainda pequena de clubes portugueses, os quais já possuem excelentes condições de trabalho. Seria importante termos um espaço próprio para as seleções nacionais, contudo gostaria de dizer que a Direção da Federação Portuguesa de Futebol tem feito tudo para nos oferecer as melhores condições de trabalho, o que merece o nosso reconhecimento.  

Será que daqui a seis anos a base do 11 da Seleção Nacional passará por jogadores que chegaram longe nos europeus de sub-19 ou no mundial de sub-20 dos últimos três anos?

Ilídio Vale, em grande entrevista ao Maisfutebol, aponta caminhos. Mais do que certezas.


Van Gaal, selecionador da Holanda terceira classificada no Mundial-14 e recém-entrado no Manchester United, disse recentemente: «Penso sempre a longo prazo, dou hipóteses aos jovens da casa. Eles têm a cultura do clube, conhecem-na e transmitem-na. Quando se compra um jogador de fora, tem que se esperar que ele a adquira. Há que fazer a adaptação, que pode resultar ou não. É mais difícil, mesmo para o jogador». É por aqui que os outros treinadores de clube têm que ir?

Agrada-me muito essa visão. O futebol português com a sua operacionalização ficaria muito mais forte. Mas convenhamos que é necessário compreender a sua complexidade atual.

Em função da sua experiência na área, acredita que lá para 2020 a Seleção Nacional tenha como base esta equipa de sub-19 que foi vice-campeã europeia? Ou ainda não será desta?
Esta geração tem qualidade, mas convém referir que outras gerações anteriores, como de 1994, 1993, 1992, 1991 e outras, revelam ou revelaram também alguns jogadores com muita qualidade. “O caminho constrói-se, caminhando” e este ainda é muito longo e difícil até ao “topo”. O futuro dependerá da qualidade dos seus desempenhos e das oportunidades que lhe serão concedidas ao mais alto nível (fundamental) para poderem expressar e continuará a desenvolver o seu talento. Temos boas expetativas quanto ao futuro destas gerações, no âmbito das seleções nacionais. Espero que continuem a trabalhar muito e em contextos de qualidade e que lhes continuem a estimular a “fome do sucesso, que hoje evidenciam.

Há uma idade crucial para se perceber se «aquele jovem vai dar jogador»? Ou isso varia? É possível, por exemplo, detetar um futuro craque depois dos 16 ou 17?

É um aspeto que deve diferenciar a qualidade dos treinadores que trabalham na formação, porque é o exercício mais difícil que terão que na sua função. Mas, ao mesmo tempo, é um exercício muito importante, pois aos jovens, mais talentosos, devem ser proporcionados, o mais cedo possível, contextos de aprendizagem e aperfeiçoamento de qualidade e complexidade ajustada ao seu nível de aptidão, de competência e superiores aos demais. É importante não criarmos condições que sejam castradoras à evolução e maturação do jovem futebolista. Portanto, quanto mais cedo formos capazes de identificar o talento e o compreendermos, mais qualificado será o nosso trabalho!  
 



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